A comunicação no processo de adoção

A adoção é o processo pelo qual se cria um vínculo de parentesco entre uma ou várias pessoas que não o têm, formando assim uma nova relação de paternidade ou maternidade.

É um processo duro tanto para a família adotante como para a criança que vai ser adotada. Mas, porquê?

A família adotante costuma ser constituída por um casal que deseja ter filhos e que não o conseguiu de forma biológica e que, em muitos casos, passaram vários anos a tentar conceber um filho, alguns submetidos a tratamentos de reprodução assistida… sem êxito. Todo esse processo causa um tempo de desgaste psicológico e emocional, que por vezes leva o casal a abandonar e, por outras, a iniciar o processo de adoção. Outro tipo de família que costuma apresentar o perfil de adotante é o de famílias monoparentais.

Quando se decide iniciar o caminho da adoção, o tempo de espera até conseguir ter uma criança e os trâmites administrativos que se devem superar também causam um desgaste emocional.

Por outro lado, o menor que vai ser adotado vem com uma história familiar problemática que originou a sua condição de adotado. A situação da sua família biológica não pode ser normalizada,  constituindo a maioria  casos de abandono, situações de negligência, maus tratos ou outras circunstâncias traumáticas.

Em todo este processo, a comunicação é um elemento chave para manter um bom desenvolvimento das relações interpessoais. Referimo-nos aqui àquela que se estabelece entre os agentes intervenientes diretamente:

  • Administração Pública – Pais
  • Administração Pública – Crianças
  • Pais – Filhos

Apesar de que aqui nos centremos na comunicação entre pais e filhos, é importante sublinhar que a Administração Pública também deve manter informados durante todo o processo tanto os pais, que estão à espera de qualquer noticia sobre a evolução do processo, como a das crianças que vão ser adotadas.

A comunicação entre pais adotantes e filhos adotados

É uma situação nova para ambos e pouco a pouco têm que aprender, uns a ser pais e outros a ser filhos. Devem-se dar tempo para se conhecer e para gostar uns dos outros, aceitando todo o processo vivido por ambas as partes.

Para favorecer uma boa comunicação entre ambos, devem-se ter em conta as seguintes premissas:

  • Falar das origens do menor e da sua própria história, de forma sincera e realista e sempre adaptada à idade. Com isto se ajuda a que exista uma construção sã da sua identidade.
  • Abordar o tema o mais cedo possível. Apesar de que não seja capaz de compreender em si mesmo o significado da palavra abandono ou adoção, na realidade já sofreu sequelas das suas experiências prévias e está afetado.
  • Facilitar-lhe toda a informação que se tenha sobre o seu caso de uma forma gradual e adaptando-se à sua compreensão. Recorde que não será completamente consciente do que implica até aos 6-9 anos.
  • Falar em positivo sobre a adoção como parte fundamental da sua integração na identidade do menor.
  • Deve-se respeitar o seu passado e as pessoas que formaram parte do menor, evitando comentários prejudiciais ou pejorativos sobre os seus pais biológicos.
  • Proporcionar um ambiente cálido, de segurança e tranquilidade, possibilitando uma escuta ativa e aberta para que o menor se sinta cómodo ao falar sobre o assunto ou a fazer perguntas sobre o mesmo.
  • Não deve ser uma conversa isolada no tempo, mas sim algo constante no seu crescimento, para ir adaptando a informação ao seu desenvolvimento e a novas perguntas que lhe surjam.
  • Evitar os tabus ou maquilhar a realidade. Se há alguma informação complicada de tratar num momento concreto, bem pela maturidade do menor ou pelo estado emocional, pode-se adiar, mas sem esquecer abordá-la.
  • Ter muito em conta as emoções do menor e facilitar que expresse os seus sentimentos em relação à informação que se lhe vai proporcionando, sobretudo a que se relaciona com as suas experiências negativas.
  • Tirar a culpa ao menor de toda a situação que levou ao seu processo de adoção.

Em resumo …

✅ Não mentir.

Aproveitar as suas dúvidas para falar do assunto.

✅ Dar informação em positiva.

✅ Informar sobre o que possa entender e para o que está preparado.

✅ Informá-la progressivamente, de dados gerais a dados específicos.

✅ Falar sobre o assunto calma e tranquilamente.

✅ Fazer com que sinta que vão ser os seus pais para sempre.

✅ Fazer com que sinta que pode fazer as perguntas que quiser.

✅ Confirmar que vai entendendo aquilo que se lhe comunica.

Mas, que assuntos devem ser abordados no processo comunicativo?

  1. História de uma procura. Falar sobre o processo que viveram e que passos tiveram que dar para formar a sua família, sublinhando que a criança era desejada e querida, inclusive antes de chegar ao seu novo lar.
  2. História de um nascimento e separação. Deve saber que, tal como as outras crianças, nasceu de um pai e de uma mãe, pelo que se deve falar com a criança sobre eles com a etiqueta que se prefira, mas sempre de forma positiva (pais e mães biológicos, pais e mães de nascimento). Os menores costumam fazer fantasias com estas pessoas pelo que se lhes deve dar informação real, sem os desvalorizar, mas sem usar uma história que exija mentir.

É muito importante falar das razoes da separação, pelo que há que fazê-lo em função da necessidade emocional do menor, ainda que sem esquecer dialogar sobre isso para evitar medo ao abandono. Há que deixar-lhe claro não é responsável do que aconteceu e que aconteça o que acontecer, essa situação não se vai repetir.

  1. História antes do encontro. Deve-se referir o lugar onde estavam antes de ser adotados, seja a sua família de origem, acolhimento ou instituição. Assim como os diferentes costumes e cultura que podiam ter, partindo sempre dos conhecimentos reais que se tenham a respeito.
  2. É importante explicar-lhe o significado dos laços sanguíneos e dos afetivos atuais, recordando que a adoção é um processo no qual se começa a aprender a ser pais e filho e que é tão segura como a que nasce de uma relação filiar biológica.

O medo que os pais podem ter a não saber responder às perguntas que o filho possa fazer é muito comum nestes casos. Deixamos alguns exemplos que lhe podem ser úteis:

  • Vocês também me vão abandonar? Se me portar mal vão-me devolver ao centro? Aconteça o que acontecer, faças o que fizeres, sempre vamos gostar de ti e sempre serás nosso filho, vamos cuidar de ti até que o possas fazer sozinho e, mesmo nessa altura, continuaremos ao teu lado.
  • Como é a minha mãe biológica? Não sabemos porque não a conhecemos, provavelmente era morena como tu. (Se tiver fotografias, pode mostrar).
  • Como se chama o meu pai biológico? Não sabemos porque ninguém nos disse como se chamava, mas se quiseres podes pensar num nome de que gostes e assim poderemos usá-lo quando te apetecer falar sobre ele.
  • A minha mãe biológica teve outros filhos? São meus irmãos? Não, se tivesse tido ter-nos-iam dito. A tua mãe teve dois filhos mais velhos do que tu, os teus irmãos. Sabemos que foram adotados por outra família, que gosta deles e que cuidam deles como nós a ti.
  • Porque me escolheram? (Neste ponto é importante explicar o processo de adoção da forma mais adaptada possível à idade da criança). Quando estiveste no centro (ou casa na casa de acolhimento), os responsáveis disseram que éramos a família que tínhamos as melhores condições para ti.
  • Porque me abandonaram? Porque me adotaram? É importante reforçar em todas as perguntas que o menor não teve nada a ver com a situação para evitar o sentimento de culpa). Os teus pais de nascimento não sabiam como cuidar-te, não estavam preparados, sabiam que não podiam cuidar-te como tu merecias… é por isso que as autoridades te procuram outra família para que fosses feliz e que gostasse de ti e que te cuidasse para sempre.

Favorecer uma comunicação aberta e sincera gerando um clima de afeto e confiança é imprescindível para manter uma boa relação com os filhos e estabelecer uma relação sólida que lhes permita desenvolver-se corretamente em etapas posteriores.